Artigo: Malária
12/06/2025
Professor-doutor Marcos Vinícius da Silva
Doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Faculdade de Medicina da USP
Professor Associado da Faculdade de Medicina da PUC-SP
Supervisor do Programa de Residência Médica em Infectologia da Faculdade de Medicina da PUC-SP
Consultor do Ministério da Saúde em Zoonoses
Coordenador do Ambulatório de Doenças Tropicais e Zoonoses do Instituto de Infectologia Emilio Ribas da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo
A malária é uma doença parasitária transmitida por mosquitos do gênero Anopheles, presente em vários países. Em 2023, foram registrados 263 milhões de casos em todo o mundo, com 597 mil mortes, de acordo com o último Relatório Mundial sobre Malária da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A África continua sendo o continente mais afetado, concentrando 94% dos casos e 95% das mortes. Nessa região, muitas pessoas em risco ainda não têm acesso aos serviços necessários para prevenir, detectar e tratar a doença. Já no Brasil, foram registrados 65.146 casos de malária nos primeiros seis meses de 2024, a maioria na Região Amazônica.
Essa é uma das chamadas doenças negligenciadas, uma ameaça crescente à humanidade e um grave problema de saúde pública. Nos três primeiros meses de 2024, o número de casos de malária no mundo e no Brasil foi bem maior do que o registrado no mesmo período de 2023, sinalizando que as ações de controle da doença também têm sido negligenciadas.
Também há transmissão de malária em outras áreas do Brasil, mas com poucos casos. Essas regiões estão localizadas no Pantanal e na Mata Atlântica, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
A letalidade por malária na Região Amazônica é baixa, tendo alcançado 0,04% em 2023. Já na região extra-amazônica, a letalidade é 51,1 vezes maior, chegando a 1,87%. Os óbitos nessa região ocorrem, em sua maioria, em pessoas infectadas fora da área — em outros países ou na Região Amazônica — que não recebem diagnóstico e tratamento oportunos e adequados, devido à dificuldade na suspeição de uma doença que não é comum nessas localidades. Isso se deve tanto à desinformação dos viajantes sobre os riscos quanto à falta de familiaridade dos profissionais de saúde com esse diagnóstico.
Nas últimas décadas, o crescimento substancial do número de viagens, especialmente por via aérea, teve um efeito importante na epidemiologia global da malária. O aumento no fluxo de pessoas para e a partir de áreas endêmicas resultou na ocorrência de casos importados, com transmissão secundária ocasional em países livres da doença.
O alerta para um paulista deve acender quando ele retorna de uma área de ocorrência de malária — no Brasil ou no exterior — e apresenta quadro febril agudo sem causa diagnóstica aparente.
Em relação ao tratamento da malária, há grande preocupação entre os estudiosos, uma vez que é crescente a resistência do parasita aos esquemas terapêuticos disponíveis, enquanto os investimentos em novos medicamentos são escassos.
A medida mais eficaz na prevenção de doenças infecciosas são as vacinas. No caso da malária, atualmente há avanços significativos no desenvolvimento de imunizantes, especialmente voltados para crianças em regiões de alta transmissão, como a África Subsaariana.
Vacinas aprovadas pela OMS
• RTS,S/AS01 (Mosquirix): aprovada pela OMS em 2021, foi a primeira vacina contra a malária recomendada para uso em larga escala em crianças. Estudos mostraram que, quando administrada em três doses com um reforço após 12 meses, pode reduzir significativamente os casos clínicos de malária.
• R21/Matrix-M: recomendada pela OMS em outubro de 2023, foi desenvolvida pela Universidade de Oxford e utiliza o adjuvante Matrix-M, da Novavax, para melhorar a resposta imunológica. Ensaios clínicos indicaram redução de até 75% dos casos sintomáticos quando administrada antes da estação de alta transmissão.
Disponibilidade e implementação
A R21/Matrix-M tem um custo estimado entre US$ 2 e US$ 4 por dose, tornando-se mais acessível que a RTS,S/AS01, que custa cerca de US$ 9,30 por dose. A produção inicial foi realizada na Índia, com capacidade estimada de mais de 100 milhões de doses por ano.
Em janeiro de 2024, Camarões tornou-se o primeiro país a incluir uma vacina contra a malária em seu programa nacional de imunização, administrando gratuitamente a vacina Mosquirix a crianças de até seis meses de idade.
Situação no Brasil
No Brasil, as vacinas RTS,S/AS01 e R21/Matrix-M ainda não estão disponíveis, pois são direcionadas principalmente ao Plasmodium falciparum, espécie predominante na África. No entanto, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo uma vacina contra o Plasmodium vivax, espécie mais comum nas Américas. O imunizante já passou por fase pré-clínica com resultados promissores e aguarda autorização para iniciar testes em humanos.
A introdução de vacinas eficazes representa um passo crucial na luta contra a malária, especialmente entre populações vulneráveis. No entanto, desafios como acesso, distribuição e aceitação ainda precisam ser superados para garantir uma cobertura ampla e eficaz.
O Instituto de Infectologia Emílio Ribas é uma instituição importante no Programa Nacional da Malária, com capacitação técnica para diagnóstico laboratorial rápido e tratamento da doença. O Instituto disponibiliza os esquemas terapêuticos distribuídos pelo Ministério da Saúde e também oferece suporte a outras instituições de saúde, públicas e privadas, que recebem pacientes com malária.
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