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Gravidez na adolescência aumenta 26% em Sorocaba entre 2009 e 2013

O levantamento preocupa a administração municipal, que trabalha com números da Fundação Seade

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul.

A gravidez de adolescentes com até 17 anos aumentou 26% em Sorocaba entre os anos de 2009 e 2013. Segundos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no ano passado, 644 crianças nasceram de mães com essa idade, contra 511 registros em 2009. Em 2012, foram 582 e, em 2010, 536 ocorrências. O índice é bastante superior ao comportamento nacional que, no mesmo período, apresentou aumento de 1% passando de 253.161 partos de mães adolescentes nessa faixa etária em 2009, para 255.710 em 2013.

Os dados preocupam a administração municipal que trabalha com números da Fundação Seade. A Secretaria de Saúde de Sorocaba (SES) informa que o percentual de filhos nascidos de adolescentes passou de 5,87% em 2009 para 6,48% no ano passado. Os percentuais levam em consideração o total de partos feitos na cidade.

Aos 17 anos, K.M.A, é mãe de dois filhos. A mais velha tem um ano e três meses e o caçula acaba de completar oito meses de vida. A primeira gravidez aconteceu aos 15 anos. A jovem teve problemas com o uso de drogas e, afastada da família por conta da dependência química, passou a morar com o pai das crianças aos 13 anos. "Eu conhecia as formas de como evitar gravidez, mas nunca usamos nenhum método. Sou de Sorocaba, mas morávamos em Piedade e quando voltamos para cá eu comecei a sentir meu corpo diferente, fiz o exame e deu positivo", recorda a jovem. Com a gravidez ela afastou-se das drogas, mas depois que a filha cresceu K. teve nova recaída. "Foi quando descobri a gravidez do meu segundo filho", comenta.

Na opinião de K., ter duas crianças pequenas para cuidar é uma forma de manter-se longe das drogas. O apoio do companheiro, diz, é essencial para sua recuperação e hoje ela faz parte do programa de acolhimento da Associação Lua Nova. Em fevereiro a jovem passará por audiência judicial e espera poder voltar para casa. As duas crianças estão com a mãe no abrigo da entidade e, para K. a principal preocupação atual é manter os filhos perto de si. "Vou voltar a estudar. Vou fazer supletivo pois parei na quinta série. As crianças já têm vaga na creche do nosso bairro e ainda pretendo arrumar um emprego, por mais que o pai deles não deixe nos faltar nada", afirma. O companheiro da jovem tem 26 anos e, como conta orgulhosa, não a abandonou por conta de sua dependência.

Acesso à informação
ação Casos como os de K, diz a vice-prefeita e secretária de Desenvolvimento Social, Edith Maria Garboggini Di Giorgi, são comuns. A secretária destaca que as jovens têm acesso às informações sobre métodos contraceptivos, mas muitas vezes enxergam na gravidez uma forma de mudar de vida. "Elas falam que não foi planejado, não foi desejado, mas quando aprofundamos a conversa acabamos percebendo que existia sim um desejo de sair de casa ou resolver a vida e a maternidade é vista como uma forma de alcançar isso", diz.

Muitas das jovens mães vêm de famílias pouco estruturadas, são filhas de mulheres que também engravidaram na adolescência e, não raramente, precisam trabalhar fora e deixar os filhos menores. Além de conscientizar as jovens sobre as formas existentes para evitar a gravidez precoce, diz Edith, outra preocupação é o desenvolvimento de políticas públicas envolvendo o assunto está relacionada à segunda gestação das jovens. Levantamentos do município mostram que cerca de 60% das mães adolescentes engravidam do segundo filho em até dois anos após o nascimento do primogênito.

Entre os programas desenvolvidos no município, Edith cita o Projeto GerAções Teens, formado por equipes que trabalham com orientações aos jovens com o objetivo de reduzir a incidência de nova gravidez na adolescência. Na cidade o assunto é tratado pelas secretarias de Educação, Saúde e Desenvolvimento Social (Sedes). Edith destaca que as secretarias aguardam os dados deste ano para verificar se as ações, que foram intensificadas ao longo do ano passado, tiveram impacto positivo.

A secretária explica que a Secretaria da Saúde de Sorocaba (SES) e a Secretaria de Estado da Saúde levam em consideração o número total de nascidos vivos no ano. "O número de nascidos vivos em Sorocaba aumentou nos últimos anos e, percentualmente, as mães menores de 18 anos também", comenta. Para ela é preciso repensar o programa de planejamento familiar como um todo.

Gestação precoce traz riscos à saúde
Riscos à saúde das gestantes muito novas e prejuízos psicológicos influenciando na relação mãe e filho são alguns dos aspectos negativos da gravidez na adolescência. Professor titular de ginecologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) em Sorocaba, Luiz Sampaio explica que entre os 15 e 20 anos as jovens atravessam a segunda fase da adolescência, estágio de vida em que passam por transformações profundas, especialmente no campo emocional. Segundo ele, nessa faixa etária as características sexuais secundárias já foram estabelecidas e, habitualmente, é o período em que os jovens vivenciam a sexualidade de maneira mais intensa.

“Contudo existem algumas complicações obstétricas mais comuns entre gestantes muito jovens: prematuridade, doença hipertensiva da gravidez, dificuldades para o parto vaginal, bolsa rota e processos infecciosos", diz. O ginecologista alerta ainda para o fato de que a maior parte dessas complicações são decorrentes das tentativas das adolescentes esconderem a gestação dos pais ou responsáveis. Com isso, continua o médico, elas adiam o início do pré-natal. Para ele as complicações mais preocupantes na gravidez durante a adolescência são as implicações sociais e psicológicas.

Diálogo é a melhor prevenção
Engravidar na adolescência faz com que as jovens pulem etapas da vida e pode trazer implicações negativas no relacionamento com o filho no futuro. Conversar com os adolescentes sobre sexo e métodos anticonceptivos, diz a professora do curso de psicologia da Universidade de Sorocaba (Uniso), Evelyn Christina Peres Barrelin, é a forma mais eficaz para evitar uma gravidez precoce. As campanhas publicitárias sobre o assunto, diz a psicóloga, levam informações, mas não determinam o comportamento dos jovens. Evelyn alerta para o fato da gravidez na juventude resultar em responsabilidades para as quais nem sempre os jovens estão preparados. "Ela viveria certas coisas que, com a gravidez, provavelmente não será mais possível. Isso tanto na inserção no mercado de trabalho como em outros aspectos da vida. Ter uma liberdade maior e preocupações típicas da idade. Coisas que seu grupo pode estar vivendo de outra forma", argumenta a psicóloga. O apoio da família no direcionamento e suporte emocional dessa jovem, é essencial.

Por conta das privações trazidas a uma jovem, a maternidade pode ser uma experiência frustrada e prejudicar o relacionamento da mãe com o filho. "Pode ter problemas no futuro e ver o filho como alguém que impediu que ela vivesse certas coisas. (A gravidez na adolescência) Aumenta a probabilidade de rejeição da mãe em relação à criança", pondera Evelyn.

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