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Nota

Por que zika vírus?


Marcos Vinicius da Silva
Professor Associado da Faculdade de Medicina da PUC-SP
Professor do Programa de Pós-Graduação da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
Médico Infectologista do Ambulatório de Doenças Tropicais e Zoonoses e do Núcleo de Medicina do Viajante do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, SES/SP

            O zika vírus é um arbovírus (isto é, transmitido por artrópodes) que causa doença humana e é considerado uma zoonose emergente. Ele foi identificado pela primeira vez em 1947, em macacos da floresta Zika, localizada em Kampala, na Uganda, durante estudo de vigilância para febre amarela.

Em outros mamíferos – como búfalos, elefantes e zebras – foram encontrados anticorpos para esse vírus, mas sem que, até o momento, conheça-se a participação (ou não) desses animais na cadeia epidemiológica de transmissão dessa doença.

Em 1952, o zika vírus foi identificado como causador de doença humana em alguns pacientes da Uganda e Tanzânia. A primeira epidemia atribuída a ele ocorreu na ilha Yap, na Micronésia, em 2007. Já a segunda aconteceu na Polinésia Francesa, em 2013. Em janeiro daquele ano, foram registrados casos humanos na Caledônia.

Rapidamente, esse vírus disseminou-se ou passou a ser identificado em outros países do continente africano – como Senegal, Nigéria, Costa do Marfim, Gabão, Egito, República da África Central, Serra Leoa – e na Ásia – no Camboja, Índia, Indonésia, Malásia, Paquistão, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã. Em seguida, disseminou-se para o Japão, Noruega, Oceania, Ilha de Páscoa, Pacífico, América do Sul, América Central e Caribe.

O zika vírus é transmitido por mosquitos do gênero Aedes, entre eles, o Aedes aegypti e Aedes Albopictus. A transmissão vertical, da mãe para o filho, pode ocorrer durante a gestação, pela passagem do vírus através da placenta ou durante o parto. Também há relato da transmissão por transfusão sanguínea e por relação sexual, por vírus presentes no sêmen.

Os primeiros sintomas em humanos aparecem após o período de incubação, que varia de três a 12 dias. Algumas pessoas podem ter os sintomas, enquanto outras, não. A doença geralmente manifesta-se com o aparecimento de febre baixa; dor de cabeça na região atrás dos olhos; vermelhidão nas conjuntivas dos olhos; dor nas articulações; inchaço nas extremidades do corpo, mãos e pés; e manchas avermelhadas na pele. Essas manchas, primeiramente, aparecem no rosto e, depois, espalham-se para o corpo e membros. Elas podem ser acompanhadas por coceira, dores musculares, alterações digestivas (como diarreia e vômitos) e vertigens.

A partir da epidemia ocorrida na Polinésia Francesa, a doença começou a ser mais bem estudada e outras alterações clínicas passaram a ser identificadas, como o comprometimento dos olhos, a diminuição no número das plaquetas do sangue e o comprometimento neurológico – podendo, ou não, afetar o cérebro e as membranas que envolvem o sistema nervoso central (meningoencefalite), assim como a microcefalia em crianças nascidas de mães com documentação da doença durante a gestação.

O zika vírus tem sido apontado como uma das causas da síndrome de Guillain-Barré (inflamação aguda com comprometimento da membrana (mielina) que envolve os nervos, interferindo na transmissão do estímulo nervoso aos músculos, podendo levar à fraqueza muscular ou até à paralisia, geralmente grave.

Até o momento, foram identificadas duas linhagens desse vírus, uma africana e a outra asiática. Esta última é a responsável pela doença no Pacífico e na América do Sul.

A linhagem asiática adaptou-se aos humanos, passando a ter, na sua cadeia de transmissão, a disseminação de humano para humano, não necessitando mais do macaco. Com isso, houve a recente expansão urbana da doença, perdendo o vínculo inicial silvestre.

O comércio e o turismo entre as diferentes regiões do mundo intensificaram-se nas últimas décadas, com deslocamento de grande contingente humano. Assim, também aumentou o risco da introdução de doenças, como ocorreu com o zika vírus.

Em maio de 2015, a doença por zika vírus foi diagnosticada pela primeira vez no Brasil, sendo oito casos na Bahia, oito no Rio Grande do Norte e um em São Paulo.

As alterações adaptativas do vírus nos seres humanos, associadas à grande disseminação do vírus (decorrente da infestação pelo Aedes aegypti no Brasil), facilitaram a disseminação da doença no país e o aparecimento de muitos casos.

Isto levou a novos conhecimentos sobre a doença, tais como o aumento no número de casos da síndrome de Guillain-Barré nas regiões do Brasil onde ocorre a doença e aumento dos casos de microcefalia e de alterações neurológicas e oftalmológicas nos recém-nascidos de mães acometidas pelo zika vírus e notícias de mortes.

No Brasil, o Ministério da Saúde estabeleceu associação da microcefalia nos recém-nascidos com a infecção materna pelo zika vírus durante a gestação, como verificado na Polinésia Francesa.

Até o dia 5 de novembro de 2015, foram notificados no país 1.761 casos de microcefalia, com ou sem comprometimento do sistema nervoso central, procedentes de 422 municípios de 14 estados.

Após o início dos sintomas, o vírus permanece na corrente sanguínea por três a cinco dias, momento em que é possível realizar o diagnóstico laboratorial, empregando-se técnicas de biologia molecular, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), ou pelo isolamento do vírus por técnicas de cultivo viral.

Não há tratamento específico para o zika vírus: nesses casos, são adotadas medidas terapêuticas de suporte, com medicamentos sintomáticos e acompanhamento dos doentes durante e após a fase aguda da doença.

A melhor estratégia no combate ao vírus é a prevenção, pois ainda não há vacina. As ações de prevenção ainda são as melhores armas que temos para combater a doença, como o controle do mosquito transmissor, Aedes aegypti; medidas de proteção individual com o uso de repelentes de insetos e a proteção mecânica, com roupas que cubram e protejam grande parte da pele.

O mosquito Aedes aegypti, além de transmitir o zika vírus, pode transmitir a febre da dengue, a febre de chikungunya, a febre amarela, a encefalite do Nilo ocidental e outras viroses.

O combate ao mosquito Aedes aegypti é um exercício de saúde pública e de cidadania. O governo tem que fazer a sua parte, atuando nos locais públicos e combatendo os criadouros do mosquito.

Por outro lado, se não houver a conscientização da população quanto ao exercício da cidadania – uma vez que muitos desses criadouros estão dentro das residências e das propriedades particulares, cuja ação de combate é da responsabilidade individual –, a doença não será controlada. Se a eliminação desses criadouros não for encarada como exercício de cidadania, responsabilidade individual do cidadão e não somente pública, nós continuaremos a perder essa batalha contra o mosquito e contra as doenças por ele transmitidas.

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